Carros que dão
choque
Quem
já não levou um choque ao tocar em um carro?
É
uma experiência que não representa perigo, mas bastante desagradável.
Todos
os corpos são formados por elétrons e prótons, sabemos que eles apresentam
cargas elétricas negativas e positivas respectivamente, então por que não levamos
choques ao tocar em algo? A explicação é que todo átomo tem quantidades iguais
de prótons e de elétrons, cargas positivas e negativas em quantidades iguais se
anulam e o resultado final é zero. Porém existem maneiras de desequilibrar
essas quantidades. Os objetos em geral apresentam uma característica chamada de
eletroafinidade, ela significa exatamente o que o próprio nome diz: afinidade
por elétrons. Quanto maior seu valor, mais o corpo em questão tem facilidade em
roubar elétrons de outro que se esfregue nele. Ao atritar dois corpos com eletroafinidades
diferentes, o de maior valor adquire elétrons roubados do outro, termina com
elétrons a mais, ficará negativamente carregado, e o outro com elétrons a
menos, positivamente carregado. Alguns materiais, todos eles isolantes, são
classificados em uma série chamada de triboelétrica, este tribo vem de atrito,
é uma série de elementos que se eletrizam por atrito. Em ordem decrescente de
eletroafinidade, eles são:
Celulose
Resinas
Plásticos
Seda
Lã
Vidro
Cada
vez que um desses materiais é esfregado em outro, acontecerá uma eletrização
por atrito, por exemplo, pegue um canudinho de refresco, desses de plástico e
enrole-o em um tufo de cabelos bem apertado, agora puxe o canudo esfregando-o
no cabelo e o atire contra a parede. O que aconteceu? Ele ficou pregado na
parede. Será por causa de sua brilhantina? Não, ele está eletrizado, portanto
sofre uma força de atração com a parede que o mantém preso.
Sua
experiência não funcionou?
Verifique se seu cabelo está seco e limpo e se
o canudinho é realmente de plástico. Outro caso acontece quando você usa um
pente plástico: seu cabelo é lã, portanto o pente rouba elétrons dele se
eletrizando negativamente enquanto seu cabelo se torna positivamente carregado.
Em algumas situações torna-se quase impossível pentear os cabelos por causa da
atração que aparece entre as cargas de sinais opostos presentes neles e no
pente. Isso não acontece todo dia por causa de algo a que chamados de rigidez
dielétrica, este fator determina que todo isolante é capaz de impedir a
passagem de cargas elétricas até certo ponto, quando o campo elétrico
ultrapassa certo valor, o material deixa de ser isolante e se transforma em
condutor. O ar é um isolante, não permite passagem de corrente elétrica, mas, quando
a umidade relativa aumenta, sua capacidade de isolamento diminui, portanto em épocas
mais úmidas, estes efeitos de eletrização quase não são notados, pois os corpos
não conseguem segurar as cargas neles colocadas que escapam para o ar. Em
épocas de seca, aí sim, sofremos com choques quase todos os dias. Já reparou
que às vezes quando você está tirando um casaco de fio sintético,
principalmente em dias secos, ao passar por seu cabelo ele estala? Quando
acontecer, feche o quarto, apague todas as luzes e aguarde por aproximadamente
4 minutos para que seus olhos possam sofrer adaptação visual, se acostumando ao
escuro. Após este tempo retire a blusa esfregando-a em seus cabelos e observe-a
atentamente fazendo nela pequenos movimentos. Você irá perceber que estes
estalos são provocados por pequenas descargas elétricas, são mini-trovões produzidos
por mini-raios. Não se deixe enganar pelo pequeno tamanho, estes raios em miniatura
podem ter tensões de até 60.000 V. Para saber o valor aproximado da tensão de
cada um, é só estimar seu comprimento, se o ar estiver bem seco, serão 3000 V
para cada milímetro, (a rigidez dielétrica do ar seco é de 3000V/mm).
Agora
você ficou impressionado! Quer dizer que eu levo choques de 60.000V e
nem
sinto? Mas os 127 V de uma tomada podem me matar! Sim é verdade, este choque você
não sente porque acontece na sua roupa, se ocorresse no seu corpo, a sensação seria
bem leve, como você já cansou de sentir.
Se
nosso corpo contém cargas elétricas e, essas se encontram em repouso, elas
simplesmente não são percebidas, apenas notamos nossos cabelos se arrepiando
quando a quantidade de cargas é grande o bastante. Nós somente sentimos uma
carga quando ela se encontra em movimento produzindo uma corrente elétrica, aí
sim, sentimos o famoso “choque”, e neste choque, quem faz o estrago, quem fere,
quem machuca é a intensidade de corrente. No caso de um choque produzido por cargas
estáticas, destas a que a gente se sujeita
todos
os dias a corrente elétrica é bastante pequena e não representa maiores riscos
enquanto que em uma tomada a intensidade de corrente é muito mais intensa
podendo até matar.
Situações onde se tomam “choques”:
· Tocando o lado de fora de um carro que
esteve recentemente em movimento. Ao se movimentar é comum que o carro acumule
cargas.
· Jogando basquete. A bola de basquete tem
elevada eletroafinidade e cargas acumuladas nela passam facilmente para o nosso
corpo a cada contato, de repente você, eletrizado, encosta em alguém neutro, a
passagem da carga de um corpo para o outro provocará o choque.
· Ambiente com carpete e ar condicionado. O
ar condicionado deixa a umidade relativa do ar muito baixa, portanto aumenta a
rigidez dielétrica do ar facilitando a ocorrência de eletrização. Se houver
diferença entre a eletroafinidade de seu calçado e a do carpete, você se
eletriza sem saber e só vai perceber quando tocar em outro corpo que seja condutor.
Dica:
Para não tomar choques de seu carro, se é que isso te incomoda o suficiente, existe
um dispositivo, na verdade uma barra de borracha metalizada e flexível que se coloca
por baixo do veículo, presa ao chassis, que fica arrastando todo o tempo no
solo, descarregando nele qualquer carga que poderia ficar acumulada.
À
propósito, você sabe por que eletricidade se chama eletricidade? Os gregos, há
2500 anos já haviam percebido sua existência, eles observaram que pedaços de
âmbar, atritados com lã apresentavam umas estranhas propriedades, atraindo
objetos de pequenas dimensões, como em grego o âmbar se chama elektron, o nome
eletricidade surgiu daí. Ao lado pode-se ver um pedaço de âmbar, sim é ele
mesmo, aquele do filme Jurassic park, de onde acharam um pernilongo com sangue
de dinossauro com o qual reconstruíram um novinho em folha.
Marcos
Diniz
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